de uma Las Vegas diurna
esperava, e a noite não chegava.
queria luzes de neon
dançarinas de sorriso decadente
e brilho fosco de olhares entediados
queria uma noite de jogatina e alcool
seus pulmões nublados
sua roupa impregnada de um perfume barato de algum desconhecido.
queria a noite, um whisky vagabundo e um caça palavras no bar do cassino.
malabaristas com fogo e palhaços depressivos.
e velhas putas se exibindo nas calçada.
ou num beco escuro.
ou em qualquer lugar com alguém que pudesse pagar pela exibição.
mas toda essa luz o obriga a ficar em seu quarto
com as janelas abertas e as cortinas fechadas.
um pequeno fragmento de luz invade o quarto
iluminando a poeira, o mofo e a fumaça.
a fumaça aumentava.
e começava a tomar o quarto enquanto o vento dava voz a ela do lado de fora.
não apenas a fumaça, mas também o fogo.
por todo lado.
não apenas a fumaça e o fogo, mas também o calor.
e o dia ensolarado, e todo aquele deserto lá fora, só o potenciavam.
tentava pensar nas bailarinas, nas velhas putas e nas luzes neon.
brilhantes, fantásticas, fabulosas.
luzes que ele não voltaria a ver.
como uma fotografia antiga de uma Las Vegas diurna, estava aquele quarto; esbanjando calor e queimando como uma ideia.
estralando um ar de decadência.
e de glamour.
o fogo estralando.
aos poucos o fogo se foi, sobrando apenas o calor e a fumaça.
- carbonizado, eles disseram, o corpo está carbonizado.
- hnm. isso é o que o fogo faz com as pessoas, idiota.
- ok. pare de me encher o saco e vamos tomar algumas, já é noite em Las Vegas e eu estou sóbrio.