sexta-feira, 30 de outubro de 2009

sinal de trânsito


essas são as pessoas que acreditam em comerciais
essas são as pessoas que compram dentaduras a prazo
essas são as pessoas que comemoram feriados
essas são as pessoas que têm netos
essas são as pessoas que votam
essas são as pessoas que têm funerais


...


esses são afinal quese todos
que existem.


( trecho de 'Sinal de trânsito', C. Bukowski  - O amor é um cão dos diabos)


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

no harm[?]


passando pela rua, você recua, muda de rumo, desvia o olhar, desvia o pensamento, ignora.
ignora o que sua geladeira cheia causa.
seu desodorante. sua gasolina. seu cabelo escovado.
queria tanto ajudar não é mesmo?
queria tanto poder dar assistência e ajudar com todas as suas forças.
queria?
mas ahhhh, é tão difícil, é tão complicado. demanda tempo. você teria de abandonar a inércia não é mesmo? teria que abandonar tantas coisas. 
você coloca inúmeros obstáculos irreais. se desdobra pra explicar os 'porquês' e os 'porens'. isso tudo não passa de uma ilusão. todo esse universo de explicações. ninguém está interessado. você não está interessado. 
vem com seus discursos humanitários. com sua pseudo vontade de ajudar as pessoas e mudar o mundo. só quer os aplausos, nada mais. só quer os aplausos, os aplausos, os sussurros, os comentários, quer seu nome em um pedestal. no mais imponente deles. 
continua desviando o olhar. continua não ajudando. continuará assim. é mais fácil manter essa relação íntima com a velha amiga hipocrisia. afinal, ela te trouxe até aqui. te ajuda a dormir a noite. te deixa com esse sorriso amarelo no rosto.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

.


a natureza chama.
o natural. o instintivo.
é incrível o que se pode fazer sob a pressão das necessidades.
o egoísmo puro, intrínseco.
o que se pode fazer pra conseguir algo novo. 
a sensação de liberdade, de autocontrole.
o que se pode fazer pra conseguir algo por tanto tempo almejado.
imagem e ação.
mais imagem do que ação.
mais imagem do que qualquer outra coisa.
o dia após os bacanais. remorso e culpa.
o desejo de reparar a situação. presentes de natal e laços vermelhos.
dívida. dúvida. demora. distração. descaso.

guarde esse seu discurso moralista, essa sua hipocrisia.

guarde o anúncio de jornal. guarde a revista.
toda essa putaria. todo seu senso crítico.
guarde seus editoriais.

pose pra foto.



querido, olhe-se no espelho.
sua maquiagem está borrada.




terça-feira, 22 de setembro de 2009

vamos fugir para o méxico?!


 viver de tequila, guacamole, chilli e amores calientes.
arriba!

foto: http://sarahunderhillphotography.blogspot.com/

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

self destruction

Mandaram que você buscasse saúde e qualidade de vida. Que você se exercitasse regularmente e mantesse sua mente equilibrada com bons pensamentos. Não. Não quero. Não quero me autopreservar, cantar canções felizes e ter pulmões saudáveis. Alimentar-me regular e equilibradamente, nem pensar em coisas boas. Livre-arbítrio, disseram que eu tinha um, mas colocaram uma tv pra me educar. Enquadraram-me em um padrão que não escolhi. Não escolhi nada. Não inventei nada. Engoli tudo o que me deram para comer. Sem reclamar nem reinvindicar. Escutei tudo. Não respondi nada. Agora eu te digo mulher: pra onde foi a liberdade que você sempre disse que tive? Tive? Onde? Quando? Nada de felicidade pra você menina má, nada de sorvete como sobremesa, nada de sobremesa. A menina má que sempre foi melhor que seu queridinho cansou da venda que sempre a cegou. Cansou do cabresto e do cordão umbilical. Apocalypse please, self destruction please. Depois de chorar metade de um rio você entendeu não é mesmo?! Finalmente entendeu criança. Essa tolice de nada vale. Inocência. Doce inocência... esvaindo-se de suas mãos, escorrendo por entre seus dedos. Não vai mais se prender ao saudosismo, nem mesmo tentar entender toda a podridão dos que te cercam. Vai apenas deixar a tola criança trancada no espelho, e quando dela precisar, nada poderá fazer. Engoliu a chave, esqueceu o segredo do cadeado. Será só uma imagem destorcida, borrada. E a felicidade foi trancada com tal imagem. Você enfim escolheu algo. [your self destruction]

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

caro senhor

"Caro senhor, pobre senhor, bravo senhor, você é uma experiência do Criador do Universo. Você é a única criatura em todo o Universo que tem livre-arbítrio. Você é o único que precisa descobrir o que deve fazer a seguir - e por quê. Todos os demais são robôs, máquinas.Algumas pessoas parecem gostar de você, e outras parecem odiá-lo, e você deve se perguntar por quê.Elas são simplesmente máquinas de gostar e máquinas de odiar.Você está exausto e desmoralizado.Por que não estaria? Claro que é exaustivo ser obrigado a racionalizar o tempo todo num universo que não deveria ser racional."
 ( Kurt Vonnegut - Café da manhã dos campeões)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

outro dela

Deitada no chão do banheiro, ela examina a claridade, analisa as rachaduras da parede e a velhice do espelho. Unhas vermelhas lascadas, pele branca, veias azuis esverdeadas, frio. Enrola o fio dos fones de ouvido em sua mão esquerda, enquanto a direita passa para a próxima música nostalgica. Mais um sábado depressivo. Vontade que os familiares saiam para que ela possa acender um cigarro na área de serviço. Vontade de sair, comprar a cerveja da garrafa verde e o cigarro do rótulo vermelho e sentar-se no meio fio de uma praça abandonada qualquer. Não quer ser vista, não quer ver ninguém. Saudade do beijo, do abraço,do sorriso. Quer sua inocência de volta, embalada pela roda gigante, algodão doce, música alegre e pedrinhas furta-cor. Quer carrocel,sorriso demente, infantil. Vida sem café, obrigações adultas, música depressiva, responsabilidades, concreto cinza e linhas modernas. quem tirou isso dela?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

vermelho martini

Língua, dentes, lábios, metal, língua,lábios.
O gosto vermelho em sua boca, o cheiro doce de sua pele.
O barato saiu caro demais. Você sentiu quanto a ilusão findou-se naquela tarde de domingo. Esperou chorar, achou que iria, mas não conseguiu. O sal ainda não temperou seus olhos. Agora vê o novo à sua frente e teme, e duvida, e vai.
Vai mais um pouco pro canto de lá. Vai com as mãos por um lugar desconhecido. Vai. Vai. Vai mais pra perto de uma dose de felicidade. Uma dose de sossego engarrafada. Desce rasgando.
Língua, dentes, lábios.
Agora mais calma, agora gostando de todas as sensações.
Você amor, não merecia o inferno, mas decidiu passar por ele, encontrando lá diversão e contentamento infantil.
Criou a situação. Fantasiou toda essa mentira.
Acorde Dom, pois essa Capitu não carrega o filho de outro. Não carrega filho nenhum. Apenas a decepção de ter achado em seus lábios um sorriso casual temperado de nicotina.
Lábios, língua, língua, lábios, língua, língua.
Obrigada por me mostrar em quem posso confiar. Obrigada amor por nunca me chamar de amor ou dizer o quanto se importava com meu bem estar.
Obrigada amor por sua desconfiança em meu sangue e suor.
Ele entregava seu medo ao acaso.
Seus olhos. Olhos insanos. Caminha.
Caminha em direção ao nada e ao tudo.
E você querendo mais.
Tudo indicava o contrário de tudo que passou a saber.
Segue então na falta daqueles lábios e do gosto vermelho de martini.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Adeus você.

uma criança se encanta com uma bolha de sabão, se ilude com o brilho e as cores, e a segue. de repente a bolha estoura e respinga água de sabão dos olhos da criança e arde, machuca. iludir-se é divertido.engraçado. até que a bolha estoura e o brilho ofusca. as cores viram preto e branco. a realidade vem à tona.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Retrovisores quebrados


Esqueceu de olhar pra si
e a seu ver, todos estão errados
Seu retrovisor está quebrado
e você olha esperançoso para o futuro
Seu passado se repete a cada dia, mas vc acha os espelhos inúteis.
e como olhar pra trás com toda essa amnésia?
 Mas tudo o que seu espelho tinha pra dizer era que vocês foram produzidos em série
e as escolhas erradas que seu vizinho faz, são as mesmas que você.
As pessoas são iguais, diferentes são as lojas nas quais compram seus espelhos.
Você me olha de um jeito, mas o espelho diz a verdade sobre seus olhos
Vejo a dor de uma vida solitária
Vejo o medo de uma criança largada sozinha no mundo dos adultos
Vejo seu ódio, seu descontrole, seu vício
Suas máscaras só podem ser tiradas por vc mesmo
O espelho pode te dizer quem vc é, mas enquanto vc continuar recusando a olhar pra essa imagem fria,
vai continuar preso em sua cabeça doente e atormentada
em seu mundo de retrovisores quebrados.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Querido monstro

sua cabeça se tornou nada mais que algo triste e miserável
insustentável  
seus vícios já não preenchiam o vazio, a dor e a loucura
sentia-se em uma nuvem de dor e desespero 
não tinha mais para onde fugir 
sua mente fazia-o confuso e perdido em meio aos clichês
seu coração havia se tornado de pedra, e seus olhos não viam mais a luz  
a noite era seu estado de alma constante imutável, exageradamente doloroso 
o garoto tímido e recatado ficou esquecido no mundo perfeito de sua mente
agora, oq ele via no espelho era o reflexo de seus amigos, seus vedadeiros amigos;
a nicotina, o alcool, os livros, a música.  
seus ossos expressavam o quão seco estava seu espírito e seus olhos não enxergavam mais a luz 
a luz agora era apenas uma lembrança de um dia belo e os dias belos não aconteciam mais a melancolia, a dor e o despero eram pedaços de madeira que ele usava para construir um barco que o levaria a navegar no oceano de lágrimas amargas de todos os dias  
não se importava mais com as pessoas, e elas também haviam cansado de se importar com ele  
pessoas normais temiam a morte, mas ele temia a vida  
o ar entrando em seus pulmões o amedrontava e cada suspiro representava um punhal sendo fincado em seu peito  
malditas hemáceas que insistiam em levar o ar de seus pulmões até seus tecidos  
maldito sangue, malditos tecidos
maldito pó ao qual ele ansiava retornar 
não haviam mais sonhos não havia mais vontade de sonhar apenas um apetite pela morte
obsessiva mente que definhava dentro daquele saco de ossos pálido, figura que dava medo era apenas uma sombra, um espírito morto e vivo e morto vagando por lugares estranhos que pareciam mais mortos que seu interior 
queria voltar a ser o animal bom  
não queria mais ser parte daquele meio corrompido mas o futuro imperfeito conjugava-se no brilho fosco de seus olhos negros que não viam mais a luz 
viam apenas a dor
e o desespero de uma alma que clamava por misericórdia  
um grito de socorro abafado
um feixe de luz ofuscado 
era um bom rapaz, um bom filho, um bom amigo. mas não existiam pessoas que pudessem descobrir isso  
não estavam interessadas em tentar descobrir isso  
viam apenas aquele monstro  
esquecido por si mesmo e por todos os outros.